domingo, 15 de agosto de 2010

Práticas de disciplina para profissionais na frente de trabalho

Depois que o terível tsunami aasolou vários países da Ásia no Natal de 2004, sintonizei a Rádio Pública Nacional e ouvi um budista, um muçulmano e um cristão apresentando suas perspectivas da tragédia. O budista explicou que realmente não acreditava num deus pessoal e via os desastres naturais como parte inevitável do destino, embora ele e outros budistas estivessem oferecendo ajuda às vítimas. O muçulmano tinha um diagnóstico mais direto: talvez o tsunami tenha sido um castigo, ou pelo menos um aviso, para os muçulmanso daquela região que não vinham levando sua religião a sério.
O comentarista lembrou aos ouvintes que a maioria das vítimas do desastres era composta de budistas ou muçulmanos e depois passou o microfone ao cristão, representante internacional de socorro. "Nâo tenho nenhuma boa explicação para dizer por que essas coisas acontecem e não posso pretender conjecturar o envolvimento de Deus", disse ele. "Estamos naquele território porque seguimos um homem que definiu o amor contando a história de um bom samaritano que estendeu a mão a uma pessoa que era seu oponente do ponto de vista religioso e étnico. Jesus mostrou esse mesmo amor, e acreditamos que, seguindo Jesus, estamos fazendo a vontade de Deus na terra."
alguns dias depois recebi um e-mail de um conhecido. Ajith Fernando, que estava ajudando a organizar o trabalho de socorro às vítimas no Sri Lanka. "Práticas de disciplina para profissionais na frente de trabalho" era o título da mensagem - um bom título para alguem envolvido no trabalho do Reino de Deus. Ajith lembrava que em tempos de desastres tendemos a passar dos limites do que é adequado para a saúde. em seguida, dava conselhos práticos para outros profissionais de emergência. Durma o suficiente. Não negligencie a família. Cuide de suas necessidades emocionais. Para ajudar outros, você mesmo precisa ser forte. no final, Ajith falava de práticas espirituais de disciplina: "Gente como Madre Tereza de Calcutá mostra-nos que qualquer um que queira trabalhar por um longo tempo em situações de emergência deve levar uma vida devocional sadia. Deus embutiu em nosso sistema um rítmo de vida que não devemos violar: produção e alimentação; trabalho e descanso; serviço e adoração; atividade comunitária, atividade familiar e isolamento. No entanto, numa situação como a presente, é fácil negligenciar algumas práticas de disciplina menos ativas. [...] Sempre que me sento para orar ou ler a bíblia parece haver ínúmeras solicitações urgentes pedindo minha atenção."
Moro muito longe da devastação causada pelo tsunami. Orei por Ajith e pelos outros profissionais naquela área, alguns dos quais eu conhecia, e doei dinheiro para apoiá-los. Devo admitir que me pareceu uma frágil ligação orar por gente que havia largado tudo para ajudar na recuperação daqueles países. Ajith, no entanto, seria o primeiro a dizer: "Não, a oração é essencial, eu vivo das orações. Só elas podem me dar forças para debelar o desespero e a fadiga".
Conheço um homem em Chicago que acampa em prédios abandonados pelo período de uma semana, consagrando o prédio, orando para encontrar um meio de transformá-lo de modo a servir aos sem-teto. Depois, sai a campo para arrecadar dinheiro e recrutar voluntários para recuperar os prédios. Várias centenas de sem-teto hoje tem um lugar para morar graças aos esforços desse homem.
Conheço um casal em New Jersey que viu anúncios na rua e nos jornais alertando a vizinhança sobre um agressor sexual que acabara de ser solto da cadeia e fora morar naquela área. O casal começou a orar pelo homem que aparecia nos cartazes e às vezes cruzava com eles na rua. Os vizinhos mantinham distância da casa dele, às vezes grafitavam-lhe o muro e advertiam os filhos contra seu ocupante. Depois de orar, o casal foi visitá-lo e abriram sua casa para um café da manhã servido a ex-agressores sexuais como ele. Há vinte e um anos eles oferecem esse café. Os homens mais desprezados da região têm um lugar aonde ir, onde se sentem bem-vindos e são tratados como seres humanos.
Que aconteceria se seguíssemos literalmente o mandamento de Jesus de amar nossos inimigos e orar por aqueles que nos perseguem? Como seria afetada a reputação dos Cristãos brasileiros se fôssemos conhecidos não por transitar no Palácio do Planalto, mas por nosso acesso ao céu em benefício daqueles que discordam de nós intensamente, até mesmo de forma violenta?
Numa cena registrada em Apocalipse, o apóstolo João prevê uma ligação direta entre o mundo visível e o invisível. No momento culminante da história, o céu fica em silêncio. Sete anjos de pé, com sete trombetas, aguardam pelo espaço de meia hora. Reina o silêncio, como se todo o céu prestasse a máxima atenção. Depois um anjo recolhe as orações do povo de Deus aqui na terra - o acúmulo de todas as orações cujo conteúdo revela afronta, lamento, abandono, desespero, petição - mistura-as com incenso e as apresenta diante do trono de Deus. o silêncio finalmente se rompe quando as fragrantes orações são atiradas sobre a terra, porque então "houve trovões, vozes, relâmpagos e um terremoto".
"A mensagem é clara", comenta Walter Wink a respeito dessa cena. "A história pertence aos intercessores, que com sua crença moldam o futuro." Os que oram são agentes essenciais na vitória final sobre o mal, o sofrimento e a morte.

Extraído do Livro: ORAÇÃO: ela faz alguma diferença? de Philip Yancey. Ed. Vida.